Padre José de Anchieta

Fonte http://santuariodeanchieta.com/artigo/biografia.htm

Biografia

I – A infância

José de Anchieta nasceu na cidade de San Cristóbal de La Laguna, na ilha de Tenerife, arquipélago das Canárias, pertencente a Espanha, no dia 19 de março de 1534. Foi o 3º filho do casal formado por Juan Lopez de Anchieta, natural da região Nordeste de Espanha, e de Mência Diaz de Clavijo y Lharena, descendente dos conquistadores espanhóis das ilhas, que enviuvara ainda jovem do bacharel Nuno Nunez de Villavicencio, de cujo casamento resultara uma filha e um filho. Depois de José nasceram mais sete irmãos, perfazendo uma família de doze filhos. Seu batismo a 7 de abril de 1534 realizou-se na igreja de São Domingos, encontrando-se cópia do assento no Museu.

De criança aprendeu a conviver com três culturas distintas: a basca, pelo lado paterno, a guanche, pertencente ao povo berbere do arquipélago das Canárias, conquistadas pelos espanhóis 40 anos antes do seu nascimento, e a castelhana, através do lado familiar materno. O convívio precoce com a variedade cultural e linguística, ampliado pelo aprendizado da língua portuguesa e do latim, pode tê-lo preparado para o aprendizado do tupi com suas variantes dialetais faladas desde o Rio Grande do Norte ao atual Paraná.

Generoso, afável e com uma memória prodigiosa foi encaminhado aos 6 anos para a escola conventual dos dominicanos, próxima de casa, onde aprendeu as primeiras letras, a aritmética e se iniciou no latim.

II – O período de Coimbra

Aos 14 anos deixa sua terra natal na companhia de seu irmão mais velho, Pedro Núnez, rumo a Coimbra. Este para estudar Cânones ou Direito Eclesiástico, com o objetivo de ingressar na vida religiosa, e José como aluno do recém-fundado Colégio das Artes, com professores de reconhecido mérito humanístico e no qual os alunos e os professores se submetiam a uma disciplina de aulas com início ao nascer do dia e se prolongavam até ao pôr do sol, acrescidas da obrigatoriedade de só se falar o latim, a língua culta da época. Seus dotes intelectuais ampliaram-se enquanto aprendia a nova língua, o português, na qual se passou a exprimir com destreza. Data deste período seu apelido de Canário, referência de duplo sentido a sua origem e ao pássaro homônimo de lindo trinado, pela naturalidade com que compunha seus poemas.

Deduz-se de seu poema à Virgem que, um dia, depois de uma procissão, entrou na Sé Catedral de Coimbra (atual Sé Velha) e, ajoelhado, diante da imagem de Nossa Senhora, fez voto de perpétua virgindade.

No Colégio e no próprio ambiente estudantil conimbricense teve contato com as cartas dos padres Francisco Xavier, enviadas da Índia e as de Manuel da Nóbrega e outros jesuítas da missão do Brasil, que lhe despertaram a vontade de entrar na Ordem. Assim, no 1º de maio de 1551 tornou-se noviço da Companhia de Jesus. Pouco depois, contraiu dolorosa enfermidade, provavelmente de natureza osteoarticular, que o forçou a passar grande parte do ano de 1552 na enfermaria e o obrigou a suspender toda a atividade escolar. Desgostoso e preocupado com a hipótese de ser considerado incapaz para o trabalho missionário e, por isso, forçado a deixar a Companhia viu desaparecer seus temores quando lhe foi permitido pronunciar os primeiros votos e ser encaminhado ao Brasil, devido à fama corrente entre os jesuítas dos benefícios do clima brasileiro sobre a saúde dos enfermos. Integrado na terceira missão de jesuítas enviada ao Brasil, viajaram na armada do 2º Governador Geral, Duarte da Costa, que substituiria Tomé de Sousa.

III – O Brasil

Partiu a esquadra de Lisboa a 8 de maio de 1553 e nela sete jesuítas, os padres Luís da Grã, como superior – antigo reitor do Colégio de Coimbra –, Brás Lourenço, por muitos anos superior do futuro Colégio de Santiago, em Vitória, e Ambrósio Pires junto com os irmãos António Blasquez, João Gonçalves, Gregório Serrão e José de Anchieta – o mais jovem do grupo com apenas 19 anos de idade- e desembarcaram em Salvador – BA, a 13 de julho.

IV – O padre José de Anchieta e o período de São Vicente

Nesse ano chegara a 15 de agosto a Salvador, proveniente de São Vicente, o padre Leonardo Nunes com a recomendação do superior padre Manuel da Nóbrega para providenciar a viagem, com a maior brevidade possível, de vários jesuítas para aquela capitania, onde Manuel da Nóbrega desejava concentrar a maioria dos inacianos, minimizando-se os desentendimentos com o bispo D. Pedro Fernandes Sardinha acerca dos estilos de tratamento para com os índios. Tendo-se em vista o trabalho missionário junto das tribos indígenas do sertão, a capitania de São Vicente era tida como ponto de partida para novas frentes de missões, inclusive, rumo às terras dos guaranis, mais a sul.

Por mais de uma década permaneceu ininterruptamente o irmão José de Anchieta dedicado às tarefas de professor de latim para formação de futuros sacerdotes, mas igualmente de catequese e português para jovens mamelucos e índios, integrou o grupo dos fundadores do Colégio São Paulo de Piratininga que ocorreu em 1554, participou na famosa expedição de Iperuí para as negociações de paz com a confederação dos Tamoios e esteve presente na 1ª fundação do Rio de Janeiro em 1565, antes de seguir para a Bahia onde completou os seus estudos e foi ordenado sacerdote em 1566.

No colégio da Bahia permaneceu cerca de ano e meio tempo que, embora possa parecer exíguo com vista à preparação para a ordenação sacerdotal, não nos deve surpreender considerando-se a prodigiosa memória de Anchieta, aliada à sólida formação escolar adquirida quer em Tenerife junto dos Dominicanos, quer em Coimbra com os melhores professores humanistas, além do aprendizado durante anos das palestras escutadas no Colégio de Piratininga e do estreito convivido e colaboração com os padres Manuel da Nóbrega, Leonardo Nunes e Luís da Grã, eminentes sacerdotes formados nas prestigiadas universidades de Salamanca e Coimbra.

De volta ao Rio de Janeiro, testemunhou a 2ª e definitiva fundação da cidade em 1567, antes de prosseguir viagem para a capitania de São Vicente onde, sucessivamente, exerceu as funções de superior das casas de São Vicente, reitor de Piratininga e do colégio do Rio. Foi Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, cargo que exerceu incansavelmente entre 1577 e 1588, o que o levou a percorrer as residências, colégios e missões jesuíticas no Brasil. Dele afirmou o padre Cristóvão de Gouveia que, na qualidade de Visitador informava ao Geral da Companhia em Roma, conseguir Anchieta completar em um ano aquilo que outros demoravam três, não obstante a idade e as doenças que, desde Coimbra, o acompanhavam.

V – O padre José de Anchieta e o período do Espírito Santo

Estivera na residência de Vitória em 1553 a caminho de São Vicente, depois, em 1565, na qualidade de visitador por ordem de Manuel da Nóbrega e em dezembro de 1566 passara novamente em Vitória aproveitando a armada do Governador-Geral Mem de Sá em deslocação para o Rio de Janeiro. Como Provincial estima-se que haja estado na capitania pelo menos uma vez por ano, tendo dado início à fixação dos jesuítas na aldeia de Reritiba no ano de 1579, provavelmente a 15 de agosto.

No Espírito Santo recebeu a notificação que havia sido substituído por novo provincial e aqui permaneceu como responsável pelos jesuítas da capitania entre 1587 e 1592. Centrado essencialmente no colégio de Santiago em Vitória pôde dedicar mais tempo às questões das aldeias sob assistência jesuítica, sendo as principais Nossa Senhora da Conceição (Serra), São João (Carapina), Reritiba (Anchieta), Nossa Senhora da Conceição (Guarapari) e Reis Magos (Nova Almeida).

Como taumaturgo na capitania há referências a vários atos milagrosos documentadamente atribuídos a José de Anchieta, destacando-se os testemunhos de duas curas: a primeira ocorrida por ocasião da festa de São João, na aldeia homônima (Carapina), no ano de 1588, durante a qual Estevão Machado, menino mudo de nascença recuperou a fala e a segunda ocorrida na aldeia de Reritiba, por volta do ano de 1591, quando na recepção de uma tribo recém chegada do sertão um de seus membros conhecido pelo nome de Suaçú, com deficiência motora começou a andar dentro da normalidade.

Depois do interregno na missão de visitador às casas do sul que o mantiveram ausente entre 1592 e 1594, regressou ao Espírito Santo onde, por mais um ano, desempenhou o cargo de superior em Vitória durante os difíceis anos de 94-95 sob os efeitos das epidemias, da seca e da guerra contra os Goytacazes instalados na região a sul da capitania, até obter permissão para se retirar e poder escolher o local onde desejasse passar o restante de seus dias. Preferindo a residência jesuítica da aldeia de Reritiba, por ele criada havia 15 anos. Durante 6 meses do ano de 1596 regressou, de novo, a Vitória, a fim de poder auxiliar na administração e no apoio apostólico quer na vila, quer entre a população escrava dos engenhos e fazendas situados nos arredores. Nesse período, ao chegar a notícia de um naufrágio na proximidade da foz do rio Cricaré, partiu em auxílio dos náufragos instalados na margem do rio onde a 21 de setembro, dia do apóstolo São Mateus, celebrou missa para eles. Local onde posteriormente se haveria de erguer casario da cidade de São Mateus.

Nos 44 anos de permanência no Brasil foi o amigo, confidente e orientador dos companheiros religiosos, dos governantes, dos colonizadores que lhe buscavam a amizade e o defensor amoroso das populações indígenas e também dos negros. Dele era a fama de saber conversar respeitosamente com todos, exercendo a autoridade, sem autoritarismos e mantendo-se firme.

A idade, o cansaço natural das viagens e a disciplina de trabalho que continuava a adotar debilitaram ainda mais sua saúde. Sentindo-se muito frágil, pediu para ser reconduzido em maio de 1597 a Reritiba onde faleceu no dia 9 de junho de 1597.

Sua morte fez aumentar a fama de santidade que o povo da colônia brasileira há anos lhe atribuía. O Padre José de Anchieta foi exemplo de humildade, perseverança na fé, cuidador e zelador do próximo, defensor da disciplina e da obediência em favor da paz e do progresso moral. Pertence a Simão de Vasconcelos o único retrato escrito que dele nos ficou: “Foi o Padre José de Anchieta de estatura medíocre, diminuto em carnes, em rigor do espírito robusto e atuoso, em cor trigueiro, os olhos parte azulados, testa larga, nariz comprido, barba rara, mas no semblante inteiro, alegre e amável” (In Vida do Venerável, 1. V., c. XIV, § 8).

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