“E verbo se fez carne, e habitou entre nós” Jo1, 14
A Palavra se fez gente como agente, doravante não nos encontramos mais com uma letra, uma legislação, uma escritura… e sim, com uma Pessoa. Jesus Cristo é Palavra do Pai, ele particularmente não deixou escritos, mas “encontros” que depois foram relatados pelos autores sagrados.
Com o surgimento da escritura como uma das formas da comunicação humana, muitos povos decidiram “escrever a vontade de Deus” e assim, muito se perdeu da mística do encontro devido a idolatria da letra, câncer da religião. O Antigo e o Novo Testamento são fontes de Revelação, pois expressam a história de fé de um povo, eleito não por privilégio, mas por vocação e missão: anunciar Deus ao mundo, como Aquele que cuida e ama. Pena que muitas vezes a Escritura Sagrada foi e é utilizada segundo a conveniência e vontade uma humana. Como nos diz são Paulo, a letra sem espírito mata (cf. 2Cor3, 6).
Muitos querem seguir o Cristo ao pé da letra, e por isso caem na idolatria de si mesmo, transformam a religião em empresa para alegrar o ego. Não segue a Cristo “ao pé da letra” e sim “ao pé da Cruz”, onde as vaidades e prosperidades caem por terra.
Na Leitura Orante de hoje rezo esta liturgia colocando o Pai como semeador, o Filho como a semente e o Espírito como cultivador. Aqui não faço nem exegética, nem hermenêutica, simplesmente uma via de oração.
Quando reconhecemos nossas quedas à beira do caminho e os açoites do Mal em nossa vida,
quando reconhecemos as lutas interiores onde negamos as nossas raízes,
quando reconhecemos que somos limitados e fragilizados diante das seduções que me convidam à todo momento,
tenho a oportunidade de me deixar mover pelo Espírito e assim rezar:
Sozinho eu não posso Senhor, pelo Mistério de tua Paixão, Morte e Ressurreição, salva-me Senhor!
Mesmo caídos, desenraizados e sufocados encontramos força na graça da Eucaristia,
Palavra que se faz Encontro,
a graça de ser terra boa, não por méritos, mas por vocação e missão.
Agora sim podemos cantar e gritar de alegria como o salmista de hoje.
Tudo isso é promessa do Pai: Jesus desceu do céu para amorizar a humanidade, regando-a com misericórdia, fecundando-a com a Cruz e saciando-a com a Eucaristia. Portanto, deixemos de lado a corrupção que escraviza, a síndrome do “sou terra boa” e assumamos em dores de parto nossas quedas e açoites, desenraizamentos e sufocamentos, para assim dar a luz: Vida Nova em Cristo Jesus.
Por pe. Éder Carvalho Assunção. Missionário da Prelazia de Lábrea no Corno da África padre.eder@hotmail.com
Leitura orante