Destrua o abismo com as terras do arrependimento,

Parece brincadeira, mas a amizade construída foi dilacerada a preço de nada,

Aquilo que nos unia foi rejeitado, destruiu-se a ponte, construiu-se um abismo,

Abismo que tem altura de soberba e largura de arrogância,

Fruto de uma escolha, não de uma vingança.

 

Na verdade o abismo foi cavado, com as unhas da ingratidão,

Aquilo que era dom se tornou propriedade,

O irmão amado, um usurpador em potencial,

Cavou-se na ganância do ter, da segurança,

A retórica esquizofrênica cegou:

“é meu, é fruto do meu trabalho, é pra proteger minha família”.

 

Despreocupado e nas alturas, pois a terra retirada ficou do meu lado,

Além do abismo, a estatura dos vencedores, a glória do pódio.

Justiça, opressão, temas não mais importantes, minha missão foi cumprida,

“Bendito abismo que me afasta do cheiro dos pobres,

Bendita distância que protege minha família,

Bendito deus que me ajudou a cavar e construir este abismo”.

 

Do meu lado a segurança, o conforto dos meus,

A perfeição do imaginado, mas…

Do outro lado, com um bom binóculo, ainda vejo,

Dor, opressão, indiferença, feridas lambidas,

Mas, mais do que isso, uma mão amiga, um abraço aconchegante,

Uma sopa à dois, três… uma gargalhada sem dentes, mas real.

 

Ao meu lado tudo perfeito, tudo conectado num mundo chamado:

Tudo isso, eu construir com o suor do meu trabalho.

Tudo foi comprado, nada é partilhado, nem a conversa,

Pois todos estão conectados.

O abismo está lá, bem mais próximo e perigoso.

 

Tenho tudo e não tenho nada, tudo construí, mas nada edifiquei,

Conquistei uma esposa, tive filhos, mas esqueci de construir um lar.

Frequentei uma religião, mas esqueci da comunhão.

Manchei meu mandato, falhei na missão.

O que fazer com todo esse ter?

 

Com os teus, busque o ser,

“Saia de tua terra” como Abraão e “fira-se” como Lázaro,

Troque a segurança pela providência,

Abandone a saúde preventiva e deixe-se ferir pelo contato com os outros,

E rápido… rápido… destrua os smartphones, troque-os por pás,

Destrua o abismo com as terras do arrependimento,

Estas serão em breve, um caminho de misericórdia,

Um acesso fácil ao coração do outro, ao coração do outro,

Este acesso é real, tem cheiro, dor e alegria, e mais… realização humana.

 

Por pe. Éder Carvalho Assunção Missionário da Prelazia de Lábrea no Corno da África [email protected]

Uma leitura orante

1ª Leitura – Am 6,1a.4-7

Salmo – Sl 145,7.8-9a.9bc-10 (R.1)

2ª Leitura – 1Tm 6,11-16

Evangelho – Lc 16,19-31

 

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