Deixar-se tentar-se por ele é uma questão de escolha e não de queda

Uma relação amadurece quando se pauta na memória cordial, onde o passado deixa de ser “instrumentalizado” como portador de traumas e sujeito de vitimização, e passa a ser contemplado espaço de epifania. Portanto, histórias pessoais e comunitárias herdam aprendizagem e amadurecimento afetivo. Amar e aceitar “a própria história” são antídotos contra a tentação da vitimização e da auto piedade que geram a “depressão existencial”.

 Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egito com um punhado de gente e ali viveu como estrangeiro. Ali se tornou um povo grande, forte e numeroso. Os egípcios nos maltrataram e oprimiram, impondo-nos uma dura escravidão.

E conduziu-nos a este lugar e nos deu esta terra, onde corre leite e mel.

Munir-se de boas recordações ajuda no processo de cura das feridas, onde o amor “daquele” que cuidou dasferidas se torna mais importante que o desamor “daquele que feriu”. Nenhum mal pode me atingir, pois o mal maior se resume em deixar o dom de “amar e ser amado”. Esta maturidade é fundamental do processo de ascese espiritual. A tentação da mediocridade pode levar a perca da confiança absoluta, e gerar relações frágeis, baseadas nas compensações.

Nenhum mal há de chegar perto de ti

Portanto, todos são chamados à renovação que exige uma conversão interior, uma metanóia existencial, uma releitura de vida. A tentação da reforma deixa de lado o essencial e se prende aquilo que é exterior. Exibicionismo e ilusionismo “regiliosos” são as consequências de quaresmas sem deserto.

todos têm o mesmo Senhor, que é generoso para com todos os que o invocam

Esta aventura existencial se torna apaixonante quando o crente que se “permite” ser guiado pelo Espírito, este por sua vez, leva ao deserto e fala ao coração. Nesta fala sem palavras, neste encontro sem precedentes, alguém, que não suporta o amor e é pleno de inveja, fica às voltas, e deseja a todo preço destruir este Encontro Existencial. Este que não merece a honra de ter o nome citado, se camufla com a palavra santa. Deixar-se tentar-se por ele é uma questão de escolha e não de queda, pois a força da decisão não está nele e sim, no humano, que tem a liberdade e a força da graça de dizer sim ou não. Diante de cada pessoa humana encontra-se Aquele que Ama e aquele que inveja, cabe a cada um utilizar o poder da decisão.

Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão,

e, no deserto, ele era guiado pelo Espírito.

Os misericordiosos são aqueles que se renovam, estes encontram a abundância mesmo na aridez. Os medíocres são aqueles que se contentam com as migalhas da prosperidade, e mesmo usando a palavra santa, serão sempre famintos, pois a prosperidade não sacia a sede existencial.

Por pe. Éder Carvalho Assunção – Missionário da Prelazia de Lábrea no Corno da África

Uma leitura orante da Liturgia da Palavra

Lc 4,1-13 / Dt 26, 4-10 / Sl 90 / Rm 10, 8-13

 

 

 

 

 

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